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Yamas & Niyamas

vrikshasana, portura da arvore

Yamas & Niyamas são conhecidos como o código de ética yogi. Sempre que se fala em Yamas & Niyamas se menciona a Patanjali quem escreveu deles no seu “Yoga Sutras”, como os primeiros passos na caminhada yogi.
Mas os Yamas & Niyamas aparecem várias vezes durante textos sánscritos antigos, especialmente em vários upanishads (comentários no final de cada Veda). 

Considerando que existem outros textos ancestrais fazendo menção desses preceptos, a quantidade de códigos éticos aumenta, pois Patanjali menciona 10 e alguns upanishad falam de 20. Aqui irei colocar parte dos upanishads onde os códigos são mencionados e logo, no final do artigo farei uma interpretação pessoal.

Yamas & Niyamas no JABALA DARSHANA UPANISHAD

É um dos vinte Upanishads de Yoga nos quatro Vedas, e está ligado ao Samaveda. Menciona 10 yamas e 10 niyamas.

“O grande Vishnu que possui a completa soberania do yoga encarnada na forma de Bhagavan Dattatreya, grande entre os iogues. Fala para seu discípulo, de nome Sankriti:

Os dez yamas são:
ahimsa – não ferir;
satya – veracidade;
asteya – não roubar;
brahmacharya – continência;
daya – bondade;
arjava – simplicidade,
kshama – indulgência;
dhriti – paciência,
mitahara – controle de consumo
e shaucha – higiene.
Tapas – ascetismo,
santosha─ contentamento,
astikyam ─fe religiosa,
dana─ caridade,
ishvara-pujana – devoção a Deus;
Siddhanta-shravana─ ouvir a doutrina sagrada,
hri – modéstia,
mati ─inteligencia,
japa─ repetição de sentenças
e vrata─ promessas religiosas são os (dez) niyamas ou regras.

Yamas & Niyamas no SHANDILYA UPANISHAD

É um dos vinte Upanishads de Yoga nos quatro Vedas, e está ligado ao Atharvaveda.

Dentro do yama (restrições) existem dez: ahimsa, satya, asteya, brahmacharya, daya, arjava, kshama, dhriti, mitahara e shaucha.
Destes:
– Ahimsa consiste em nunca causar dor a nenhuma criatura, em nenhuma ocasião com as ações de nossa mente, palavra e corpo.

– Satya  consiste em dizer a verdade que leva ao bem-estar das criaturas através das ações de nossa mente, palavra e corpo.

– Asteya consiste em não cobiçar a propriedade alheia através das ações de nossa mente, palavra e corpo.

– Brahmacharya consiste em abster-se de relações sexuais em todo lugar e em toda situação, em mente, palavra e corpo.

– Daya é bondade com todas as criaturas, em todos os lugares.

– Arjava consiste em preservar a equanimidade da mente, da palavra e do corpo, executando ou omitindo ações obrigatórias e proibidas, respectivamente.

– Kshama consiste em suportar pacientemente qualquer coisa agradável ou desagradável, como elogios e socos;

– Dhriti consiste em preservar a firmeza da mente nas ocasiões de ganho ou perda de fortuna e entes queridos.

– Mitahara é comer alimentos gordurosos e doces, deixando um quarto do estômago vazio.

– Shaucha é de duas variedades, externa e interna. De ambos, o externo é a higiene do corpo com terra e água; o interno é a purificação da mente. O último deve ser alcançado através de Adhyatma vidya (a ciência de Atman).

Dentro de niyama (práticas religiosas) existem dez: tapas, santosha, astikya, dana, ishvarapujana, siddhanta-sravana, hri, mati, japa e vrata.

Destes:

Tapas consiste na mortificação do corpo praticando austeridades como krichchra, chandrayana etc., de acordo com as regras.

Santosha consiste em se satisfazer com o que nos chega espontaneamente;
Astikya é fé nos méritos e deméritos da ação, conforme estabelecido pelos Vedas.

Dana consiste em dar fielmente a pessoas que merecem dinheiro, cereais, etc., legitimamente ganhos.

Ishvara-pujana é a veneração de Vishnu, Rudra, etc., com uma mente pura e de acordo com suas próprias forças.

Siddhanta-sravana é a investigação do significado do Vedanta.

Hri é a vergonha de fazer coisas contrárias às regras védicas e sociais.

Mati é fé nos caminhos estabelecidos pelos Vedas.

Japa consiste em praticar os mantras nos quais o próprio preceptor espiritual nos iniciou devidamente e isso não vai contra (as regras) dos Vedas. Japa é de dois tipos: oral e mental. O mental está associado à contemplação através da mente. O oral tem duas formas: o som e o murmurado. A pronúncia sonora traz a recompensa estabelecida (nos Vedas, enquanto) o murmurado dá essa recompensa mil vezes. O mental dá uma recompensa milhões de vezes maior.

Vrata é o cumprimento regular das ações prescritas pelos Vedas e a abstenção das proibidas.

Yamas e Niyamas no TRISHIKHI BRAHMANA UPANISHAD

Está ligado ao Shukla Yajurveda.

“Os dez yamas são: nenhum dano, veracidade, roubo, continência, bondade, simplicidade, misericórdia, paciência, dieta moderada e limpeza. Os niyamas são: austeridade, contentamento, fé em Deus, generosidade, meditação em Deus, ouvindo os Vedas, modéstia, reflexão, repetição de mantras e votos (sagrados).”

YOGA TATTVA UPANISHAD

É um dos Upanishads importantes do Hinduísmo, é um dos onze Upanishads do Yoga ligados ao Atharvaveda

Dos (deveres que constituem) os yamas, o principal fator é a dieta moderada, e não prejudicar é o mais importante dos niyamas.

 

Minha interpretação dos Yamas e Niyamas de Patanjali

Yamas

Ahimsa: O princípio da não-violência (verval, física ou mental). Não violência para com outros seres nem o próprio praticante. Pensamentos de odio são violencia. Comer animais implica violência. Ahimsa busca a bondade na forma de atitudes externas e internas, para com todos os seres. Cabe esclarecer que ahimsa não implica não reagir em caso de ofensa. Dentro da prática de ásanas devemos respeitar o ahimsa para não forçar o corpo além dos seus limites.

Satya: a verdade. Ser sempre sincero ( consigo mesmo e com os outros) em palavras, pensamentos e ações. Ou seja, as ações devem ser coerentes com os pensamentos e emoções. Pensar ou sentir “A” e fazer “B” é falta de satya. Durante a prática grupal, não se importe com como faz seu colega do lado. Se importe com a conexão com seu eu interior. A sua verdade está do lado de dentro, não de fora.

Asteya: não roubar, nem cobiçar (ação mental) ou invejar bens alheios. Por bens alheios também podemos incluir ideias e criações.

Brahmacharya: a maioria das vezes é traduzido como: controle dos impulsos sexuais. Implica saber direcionar corretamente as energia para a prática do yoga. Porém Brahmacharya literalmente significa seguir o caminho de Brahma, ou fazer com que outros sigam a Brahma, conduta consistente de Brahma. O que não faz referência ao impulso sexual e sim à intenção das acções. Brahmacharya é a primeira fase da vida, o estágio focado à educação (onde haveria castidade).

Aparigraha: desapego, não possessividade. O desapego dos bens materiais, pessoas e o próprio corpo. O apego só traz sofrimento, perda da liberdade, preocupação. A vida do yogi não é uma vida de luxos e excesos, ele não precisa “ter o melhor carro” para ser feliz. O yogi entrega os frutos da sua ação. O apego ao próprio corpo e a própria vida traz o sofrimento que aparece ante a imagem da morte. O apego ao corpo e a própria imagem gera vaidade e frivolidade. A prática do yoga debe ser feita sem pensar nos resultados. Se o praticante não atinge seus objetivos durante alguma prática não deve ferir seu ego.

 

Niyamas

Saucha: pureza (física e mental). No nível físico não é só questão de banho mas tem a haver com alimentação, limpeza interna. O que você coloca dentro do seu corpo, quais escolhas de alimentação faz. No nível mental está relacionado com os pensamentos negativos que poluem. Normalmente pensamentos e emoções negativas irão aparecer. Mas o yogi tem ferramentas para transmutar e saber lidar com eles. Ruído e determinadas músicas e filmes também poluem. Nada é inócuo. As palavras e pensamentos umas vez lançadas no ar, não desaparecem. Quais tipos de emoções e ideias quere receber do mundo exterior para trazer dentro do seu mundo interior? Filme de terror com certeza não irá trazer pureza mental. Fumo, álcool e frituras não irão trazer pureza física.

Santosha: contentamento. O contentamento é um estado de espírito interior de alegria, independente das circunstâncias externas. Santosha é vivenciado facilmente durante a prática do yoga, quando a atenção vá para dentro. O difícil e depois manter esse contentamento quando a atenção é voltada para fora, especialmente se o contexto não ajuda. Mas o yogi deve trabalhar para manter forte seu santosha e não permitir ser atingido por circunstancias dificeis. Assim terá a força para resistir as adversidades. Aqui novamente podemos lembrar a entrega dos frutos da ação. Se você não está pensando no resultado da sua ação, na recompensa, então será mais fácil manter o contentamento seja qual for o resultado.

Tapas: austeridade, sacrificio, auto-superação. É não desistir, se esforçar. Se esforçar na prática, sem forçar (respeitando o ahimsa). Força de vontade. Esse esforço e motivação não é só para superar os ásanas que estão fora da nossa zona de conforto. A força de vontade não é só para conseguir manter a concentração durante a meditação mais 5 minutos, é para manter fora da sala de prática, fora do tapete. No periodo védico Tapas estava relacionado ao sacrificio no fogo, ligado a purificação.

Svadhyaya: autoconhecimento, auto-estudo. Yoga é união, união do Eu individual com o universal. União com si próprio e o universo que lhe acolhe. Mas como chegar a conhecer esse Eu sem olhar para dentro. Só mergulhando para dentro é possível se conhecer. Desligando os sentidos para o exterior e retraindo-os para o interior. Incentivo a meus alunos fecharem os olhos durante quase toda a prática (sempre que o equilíbrio seja possível). Não só desligue o olhar, busque ouvir os sons internos do corpo também, sinta as sensações do corpo, as diferentes emoções que vão aparecendo. Fica a dica: olhando o que faz seu colega no tapete do lado, não vai conhecer seu Eu verdadeiro (sim irá conhecer a necessidade de validação externa). 

Ishvara pranidhana: entrega, renúncia aos frutos das ações. Sem entrega não é possível a prática. Se deixe conduzir. Feche os olhos com confiança e se entregue no caminho do yoga. Como às vezes falo durante a prática… não ha errado, não se preocupe com o resultado final, se preocupe por vivenciar plenamente o caminho, acompanhando paso por paso, respiração por respiração. O único errado é tirar a atenção do momento presente. (claro que se físicamente estiver fazendo alguma coisa errada o instrutor irá correger).

 

 

As datas dos Upanishads citados no começo do artigo, assim como os Yoga Sutras são muito debatidas. Realmente quem foi que determinou os Yamas & Niyamas vai além do escopo do artigo, não nos interessa aqui.

 

Mariana Gelfman

yamas e niyamas

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